No mapa da aplicação havia um caminho que perfazia o trajecto que desejava explorar naquela tarde. O que não me ocorreu foi que os mapas nas aplicações provêm de fotos com algum tempo e, na Natureza, bastam uns meses para que as plantas vagarosamente cresçam, sobretudo depois do período da pandemia. Ao iniciar aquele troço, o caminho era incerto, cheio de silvas, encoberto, mas a biodiversidade fez daquele momento da minha caminhada uma aventura natural.
Em todos os países cresce o número de trilhos marcados para que as pessoas possam desfrutar de uma caminhada refrescante pela Natureza, mas se contássemos a área onde existem trilhos poucos explorados, à semelhança de Inglaterra, que fez essa contagem, podemos estar a falar de mais de 90% de trilhos por explorar. Na revista inglesa Resurgence, o autor Nick Hayes conta a história de um botânico profissional que encontrou uma subespécie de dente-de-leão que não havia alguma vez sido registada naquela região. Uma subespécie que estava a cinco minutos da sua casa, numa zona em que era proibido caminhar, mas que durante a pandemia ninguém ligava importância. Quantas coisas não poderíamos descobrir se abríssemos a mais pessoas a oportunidade de realizarem uma aventura natural.
No tempo de Darwin e até há três décadas, era comum ver as crianças chegarem a casa sujas de lama, mas felizes por terem encontrado uma joaninha ou uma minhoca, despertando a sua curiosidade sobre o mundo natural. Hoje, com os receios de insegurança, e pelo acesso ininterrupto a um mar de informação e entretenimento, as joaninhas e as minhocas vêem-se nos ecrãs e tornou-se difícil convencer uma criança que vive de ecrãs a desfrutar da potencialidade criativa que a curiosidade numa aventura natural pode suscitar. Os governantes podem investir em jardins públicos para lavar de verde (greenwashing) as suas cidades, mas uma onda feita de pessoas como Nick Hayes, que escreveu O Livro da Transgressão, apelam à abertura de zonas pouco exploradas ao público em geral. Com isso, abre-se a possibilidade de nos relacionarmos mais genuinamente com a Natureza, sentindo-nos parte dela e inspirando a um estilo de vida mais ecológico.
Kathryn Schertz e Marc Berman, do Departamento de Psicologia da Universidade de Chicago, publicaram um estudo sobre os benefícios cognitivos de uma maior compreensão da Natureza. Concluíram que a exposição a uma variedade de estímulos naturais melhora o desempenho da nossa memória. E a razão está no efeito que as formas simples presentes no mundo natural têm sobre o nosso domínio visual, influenciando o nosso comportamento à medida que restaura a nossa atenção.
A atenção não se reduz à capacidade necessária para compreender o mundo à nossa volta, ou quando estamos a aprender, ou a trabalhar, mas considero-a como um elemento fundamental da nossa vida espiritual. Atentos à beleza que nos envolve nas aventuras naturais, tanto o louvor como a súplica diante das silvas, podem tornar-se um modo discreto de orar sem cessar.
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