Na série de reflexões que tem vindo a fazer durante as audiências gerais das quartas-feiras, dedicadas à evangelização, o Papa Francisco actualiza o vocabulário e a gramática da missão cristã no mundo de hoje. Numa dessas primeiras reflexões, o papa fala do contexto que faz frutificar a missão e refere-se a ele como paixão: «A paixão de evangelizar... pois evangelizar é uma paixão que engloba tudo, a mente, o coração, as mãos... a pessoa inteira está envolvida na proclamação do Evangelho, e, por isso, falamos de paixão.»
Há um dinamismo de alternância que alimenta, como corrente espiritual, esta paixão: «Jesus», lembra o papa, «designou os apóstolos para estarem com ele e para os enviar. Duas coisas: para estarem com ele e para os enviar a pregar... pode parecer contraditório... dir-se-ia: ou uma coisa ou outra, ou estar ou enviar. Mas não, para Jesus, não há estar sem ir e não há ir sem estar.» Não há ir sem estar, pois o anúncio nasce do encontro com o Senhor. Por outro lado, não há estar sem ir, pois «seguir Cristo não é algo intimista: sem anúncio, sem serviço, sem missão, a relação com Jesus não cresce».
No início deste mês de Abril, entramos na Semana Santa e celebramos a Páscoa (a 9 de Abril). Ao renovar as promessas do nosso Baptismo, a liturgia da noite pascal faz-nos entrar neste dinamismo do estar e do ser enviado com Jesus: o nosso encontro com o Senhor ressuscitado faz-nos levantar das nossas prostrações e dos nossos medos, remete-nos em caminho com Cristo que, no monte da missão (o mesmo da sua Ascensão, como nos faz ver o evangelho de Mateus, nos envia: «Ide, por todo o mundo. Eu estou convosco todos os dias!» (28, 16-20).
A celebração da Páscoa faz-nos recuperar este dinamismo do estar e do ir com Cristo e ajuda-nos a reler, em chave pascal, a vocação dos discípulos e a nossa própria chamada. A palavra a sublinhar é levantar-se, palavra que tem uma forte ressonância pascal. É Deus Pai quem, primeiro, a diz a Jesus morto e descido à nossa morte para nos levar com ele para o Pai: «Levanta-te, és meu Filho!» Esta palavra do Pai, que Jesus ouve na sua morte e conserva no seu coração de Filho, ressuscita Jesus e ressuscita-nos a nós com Ele. Depois, é Jesus que pronuncia esta palavra em muitos dos sinais (milagres) que realiza para remeter as pessoas em caminho, para chamar os seus discípulos e os levar consigo neste movimento pascal, da morte para a vida, das trevas para a luz, da prisão para a liberdade, das frustrações para a plenitude da vida.
A Igreja relê estas narrações da chamada dos primeiros apóstolos e discípulos em chave pascal porque elas encerram o modelo e o segredo de cada vocação, em cada tempo e lugar. Nestas narrativas, lemos que os chamados se levantam imediatamente e seguem o Senhor: a palavra que aparece (levantar-se) é a mesma usada para falar da ressurreição (o verbo grego egeiro). É uma palavra de Vida que faz superar os medos e as paralisias, as inibições que nos detêm prisioneiros de nós próprios e dos nossos fantasmas.
Cada chamada do Senhor, cada vocação, é uma ressurreição, um levantar-se pela mão de Cristo Ressuscitado, para caminhar, para O seguir nos caminhos da vida que são os mesmos da missão, pois, como remata Francisco, tu e eu, nesta vida, somos uma missão.
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