Opinião
28 abril 2023

A Luz

Tempo de leitura: 4 min
A Luz que vem de Deus é um dom precioso: quem a recebe torna-se «pessoa luminosa», capaz de partilhar luz com os outros.
P. Fernando Domingues
Missionário Comboniano
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(© 123RF)

 

A luz é uma palavra-chave da vida cristã. «Disse Deus: Haja luz; e houve luz. E viu Deus que a luz era boa; e separou a luz e as trevas. Chamou Deus à luz dia e às trevas, noite. Houve tarde e manhã, o primeiro dia» (Géneses 1, 3-5). Ainda antes de criar o Sol e a Lua, a primeira página da Bíblia diz-nos que Deus criou a luz. Foi o seu primeiro gesto criador. E Deus viu que a luz era boa. Todas as outras criaturas começam a sua existência vindo à luz, a essa luz que tinha saído das mãos de Deus. E nós costumamos mesmo dizer que também os seres humanos começam dessa maneira: damos início à nossa caminhada neste mundo quando a mãe nos «dá à luz».

Os antigos Hebreus, o povo santo de Deus, sentiam que havia sempre uma luz especial com a qual Deus ia guiando o seu caminho ao longo dos séculos. A imagem mais expressiva que eles gostavam de lembrar era a «coluna de fogo», no deserto, que de noite lhes alumiava o caminho e de dia se tornava nuvem luminosa que protegia do sol e lhes indicava a direcção a seguir (Êxodo 13, 21-22).

Mais tarde, quando já viviam na Palestina, a Terra Prometida, descobrem que o caminho de cada pessoa ao longo da vida continua a precisar da luz que vem de Deus. O livro dos Salmos abunda em expressões poéticas a este respeito: «A vossa Palavra Senhor é luz dos meus caminhos» (Salmo 118). E quando na oração contemplavam «o rosto de Deus», o rosto humano ficava radiante, como se reflectisse para os outros essa luz especial que vem de Deus: «Contemplai-o o vosso rosto ficará iluminado» (Salmo 34,6).

Pedro, Tiago e João, os três discípulos que o Mestre convidou um dia a subirem com ele a um alto monte (Mateus 17,2), nunca mais esquecerão a luz extraordinária que irradiava do rosto de Jesus. O próprio Jesus gostava de dizer: «Eu sou a luz do mundo, quem me segue não caminha nas trevas, mas terá a luz da vida» (João 8,12).

Contemplar essa luz de Deus que descobrimos no rosto de Jesus faz com que essa mesma luz penetre a nossa existência, e faça de cada um de nós uma «pessoa luminosa»: penso que é isso que diz o autor da Carta aos Efésios quando lembra aos cristãos: «Outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Vivei como filhos da luz» (Ef 5,8). 

E quando a história do mundo chegar ao seu ponto mais alto, diz a Bíblia no seu último livro, Deus brilhará de tal modo que já não precisaremos de candeias, nem de lâmpadas de qualquer tipo, porque a escuridão do mundo terá desaparecido por completo: «Não mais haverá noite, nem terão necessidade da luz da lâmpada, nem da luz do Sol, porque o Senhor Deus irradiará sobre eles a sua luz» (Apocalipse 22, 5).

Esta experiência de receber a luz de Deus é alguma coisa que todos vivemos, pelo menos em alguns momentos da nossa vida. Essa luz vem da fé. Os primeiros cristãos, quando recebiam o baptismo, diziam que tinham sido «iluminados». E ainda hoje, na cerimónia do baptismo, gostamos de acender uma vela e dizer: «Recebe a luz de Cristo.» Impressiona ver como também os pastorinhos de Fátima experimentam uma luz fortíssima, nas várias aparições. A Luz que vem de Deus é um dom precioso: quem a recebe torna-se «pessoa luminosa», capaz de partilhar luz com os outros.   

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