Opinião
01 junho 2023

Testemunhas de paz e esperança

Tempo de leitura: 4 min
Os missionários querem estar com aqueles que sofrem, testemunhando o Reino de Deus e partilhando a alegria, a esperança e a paz do Evangelho.
Bernardino Frutuoso
Director
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Na edição de Junho da revista Além-Mar, damos destaque à situação de guerra no Sudão, em que se enfrentam, numa luta pelo poder, o Exército e o grupo paramilitar Forças de Apoio Rápido. Entretanto, foi assinado um acordo de cessar-fogo entre as duas facções envolvidas, tendo como mediadores e supervisores a Arábia Saudita e os Estados Unidos. Não obstante, a violência não dá tréguas. Por essa razão, segundo a Organização Internacional para as Migrações, mais de um milhão de pessoas foram obrigadas a deslocar-se internamente e outras 319 mil fugiram para os países vizinhos. Também os missionários tiverem de abandonar a sua missão.

A situação de guerra no Sudão não é uma novidade para os missionários que trabalham neste país da África Oriental. São Daniel Comboni (1831-1881), o grande evangelizador desta região, foi o primeiro bispo do Sudão e tinha em Cartum a sede do vicariato apostólico. Pouco depois da sua morte, os homens e mulheres que seguiam o seu carisma sofreram as consequências da revolução madista, chefiada por Mohamed Ahmed Al Mahdi, que se autoproclamou o Mádi, o redentor prometido do mundo islâmico (cf. a obra Religião e Tensões Coloniais no Sudão, de Patrícia Teixeira Santos). Depois da derrota do sucessor de Al Mahdi, o califa Abdullah, em 1898, os missionários regressaram a Cartum e retomaram o trabalho de evangelização, convencidos de que, como dizia Comboni, «as obras de Deus nascem e crescem aos pés da Cruz».

Em 1964, o general golpista Ibrahim Abbud, então chefe de Estado, decretou a expulsão de todos os missionários estrangeiros que trabalhavam no Sul do Sudão. Nessa ocasião, 154 combonianas, 104 combonianos, 13 missionários de Mill Hill e algumas dezenas de protestantes tiveram de abandonar o país. No entanto, muitos dos evangelizadores expulsos regressaram ao país ou continuaram o seu trabalho em novas latitudes, seja na África ou na América Latina, disseminando, sem desanimar, as sementes do Evangelho.

Durante uma longa guerra civil no final do século passado e início deste, que culminou com a independência do Sudão do Sul em 2011, os missionários voltaram a viver episódios de morte e destruição, sendo obrigados, por diversas vezes, a abandonar a missão. Mantiveram sempre acesa a esperança de regressar em tempos melhores e assim aconteceu. Posteriormente, rebentou a guerra civil no Sudão do Sul, obrigando muitos missionários a retirarem-se para zonas mais seguras. Fiéis à sua missão, também voltaram.

O actual confronto armado, que está a causar tanta morte e destruição no Sudão, obrigou, mais uma vez, muitos missionários a retirarem-se da sua missão, mesmo contra a sua vontade. Os seus testemunhos são aterrorizadores, mas, ao mesmo tempo, cheios de esperança e de confiança em Deus. Apesar da complexa situação, todos os que partiram sonham em retornar. E quando a única alternativa é partir, desejam sempre regressar, porque querem estar com aqueles que sofrem, testemunhando o Reino de Deus e partilhando a alegria, a esperança e a paz do Evangelho, mesmo que isso lhes possa custar a vida.

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Editorial
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EDIÇÃO
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