Pode ser que alguns antigos habitantes de Lagos, agora na diáspora, sejam os primeiros a dizer que a sua cidade é um desastre devido à falta de planeamento urbanístico, sobrepopulação, comportamentos agressivos dos condutores, tráfego lento, impaciência, roubos à mão armada ou esgotos a céu aberto. Tudo isso coexiste com bolsos enriquecidos com fundos de origem duvidosa. Explicar-lhes-ão que, se Lagos fosse uma pessoa, usaria um casaco da Gucci de imitação, levaria um telemóvel na mão e um segundo no bolso de trás de umas calças axadrezadas, para o qual teria um contrato com outra companhia telefónica. Para esse mesmo filho da megacidade, Lagos também seria uma mãe com uma careta, um esgar.
Com esta imagem – ou estas imagens – em mente, o viajante que nunca esteve nesta cidade nigeriana fará por saltar o muro de todas as precauções, alertas paranóicos e, num exercício premeditado, esconderá, dobrará e guardará algumas notas de emergência dentro dos sapatos. Até aterrar. Então, perceberá a primeira mensagem calorosa e de optimismo que ilumina toda a fachada do aeroporto da cidade com um «Bem-vindo a Lagos». O nervosismo irá dissipando-se até que comece a apreciar que a maioria dos automóveis que circulam no caos organizado têm matrículas em que está impresso o lema «Centro de Excelência». Talvez não seja má ideia aproximar-se da cidade pela perspectiva da curiosidade e não pela do medo mediático.