Parece que na maior parte dos comportamentos censuráveis houve astúcia. Por exemplo, pedia-se para estar em recolhimento domiciliário, mas inventaram-se argumentos e maneiras de contornar a lei; determinados produtos eram mais necessários, e aumentou-se o seu preço. Isto faz-nos refletir sobre um dos temas do Evangelho: a tentação de ser mais espertos na prática do mal do que na promoção do bem.
A esperteza é uma virtude?
Em várias ocasiões, Jesus Cristo exorta os seus discípulos a serem expeditos, perspicazes, engenhosos, mantendo-se humildes, prestáveis e bondosos. É a esperteza ao serviço do bem.
Certa vez, Jesus incita os discípulos a serem criativos e arrojados no cumprimento do bem, dizendo-lhes para serem superiores aos que só procuram o proveito pessoal, comentando: «Os filhos deste mundo são mais espertos nos seus negócios do que os filhos da luz» (Lucas 16, 8).
Outra vez, diz-lhes: «Sede perspicazes como as serpentes, mas simples como as pombas» (Mateus 10, 16). Quer dizer: estejam sempre alerta, para a vossa sobrevivência, mas sejam, sobretudo, pacíficos. O próprio Jesus dá exemplo, quando os seus adversários lhe montam ciladas e Ele cala-os com o poder da palavra certa, sem gritar nem ser violento.
Ao longo da História, muitos santos imitaram o Mestre no desembaraço para resolver problemas urgentes. Empregaram os meios adequados para conseguir o fim bom e feliz que tinham em vista. Um deles, o apóstolo São Paulo, defendeu-se da sua morte iminente, servindo-se com inteligência das divisões entre grupos no tribunal que o condenava (cfr. Atos dos Apóstolos 21, 27-33).
Esperteza, no sentido do Evangelho, é a capacidade de, num relance, perceber a gravidade da situação, avaliar um modo de a solucionar e passar à ação, amando muito.
_________________________________________
Nestes tempos da covid-19, pedem-nos que fiquemos em casa para nos protegermos, cuidar de nós e dos nossos e ser solidários com a comunidade. Os Missionários Combonianos e as revistas Além-Mar e Audácia querem contribuir para que passe este período da melhor forma possível e, por isso, enquanto durar a quarentena, decidimos tornar de leitura livre todos os conteúdos das nossas publicações missionárias.