Valores
08 dezembro 2024

Um político exemplar

Tempo de leitura: 3 min
Julius Kambarage Nyerere tornou-se cristão com 20 anos e trabalhou por pôr em prática o sonho de Deus: uma sociedade mais fraterna, igual em oportunidades e dignidade.
Filipe Resende
Missionário comboniano
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Julius Kambarage Nyerere (Tanzânia, 1922-1999) é conhecido na África do Leste como o mwalimu, que na língua africana suaíli se traduz por «professor». Foi essa a sua profissão antes de chegar a ser o primeiro presidente da República da Tanzânia, quando o país se tornou independente da Grã-Bretanha no dia 1 de dezembro de 1961.

Julius nasceu numa aldeia no norte da Tanzânia. Era filho do chefe da tribo zanaki, uma das 128 do país, e foi-se logo destacando como aluno brilhante. De tal modo que foi o primeiro tanzaniano a estudar numa universidade na Grã-Bretanha. Licenciou-se em Estudos Políticos. Faleceu em 1999 com leucemia, em Londres, e foi sepultado na sua terra natal.

Porque foi um invencível

Julius teve um papel político muito amplo. Como presidente, é lembrado sobretudo pela forma honesta e correta como lidava com as situações, como procurava servir sempre o povo e pela sua humildade. Era uma pessoa inteligente, admirada tanto pelo povo, como pelos políticos. Foi o inventor de uma visão política de comunidade e bem-estar social – a ujamaa, «fraternidade» em suaíli – original e inovadora em África. Tanto assim que gente fora da Tanzânia o admirou. Falava e comunicava com muita simplicidade com pessoas de todas as classes sociais e estilos de vida. Foi um católico ativo e também tinha grande respeito pelas outras religiões. Depois de ter promovido a construção de uma igreja na sua terra natal, procurou ajudas para a construção de uma mesquita. Ele respeitou sempre o diálogo inter-religioso e já no final da sua vida escreveu uma peça de teatro poética dos quatro Evangelhos e dos Atos dos Apóstolos na sua língua materna.

 

Porque vai ser sempre um invencível?

O padre Joinet, um missionário francês amigo de Julius Nyerere, disse que ele ficará na História como exemplo por três razões. Primeiro, porque, com o seu respeito por todas as religiões e sobretudo pelo islão, conseguiu fazer coexistir pacificamente as pessoas das diversas religiões e etnias. Segundo, porque nunca se apegou ao poder: apelou para a independência do país, mas também deixou o poder quando terminou o seu mandato. Terceiro, o total desprendimento do dinheiro. Sempre se vestiu de maneira simples, viveu numa casa modesta, com a mulher que fazia compras nas lojas locais como as demais mulheres, não construiu um palácio presidencial e não deu privilégios à sua família. Todos estes valores eram-lhe inspirados por Jesus Cristo. Julius tornou-se cristão com 20 anos e trabalhou por pôr em prática o sonho de Deus: uma sociedade mais fraterna, igual em oportunidades e dignidade.

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EDIÇÃO
Dezembro 2024 - nº 634
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