Emocionamo-nos à vista dos seus corpos ondulantes e a ouvir os seus cânticos submersos: a sua fala – quem nunca ouviu a canção da baleia azul pode procurar na Internet.
Houve um tempo, no entanto, quando as navegações eram uma aventura pioneira e muito mais arriscada do que é hoje, em que as baleias eram vistas como monstros marinhos perigosos, conceção que perdurou durante muito tempo. Publicado em 1851, em pleno século XIX, Moby Dick, o mais famoso livro do romancista americano Herman Melville, é um relato poderoso de uma aventura nos mares, baseada na própria experiência do autor, mas é essa visão que nos dá desses magníficos animais. Hoje, felizmente, temos um outro olhar.
De alimento à quase extinção
O século XX quase foi fatal para a maioria das espécies de baleias. Nas décadas que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, o consumo de carne de baleia foi essencial para alimentar a população japonesa muito empobrecida. E, embora essa necessidade alimentar tenha decaído com o início dos anos de prosperidade naquele país, a caça à baleia prosperou. Vários países, incluindo o Japão, a Rússia ou a Noruega, praticaram-na de forma industrial e implacável com as suas poderosas frotas, até à década de 1980, o que quase levou inúmeras espécies destes cetáceos à extinção.
Há pouco mais de trinta anos, a baleia-azul, o maior animal do mundo, esteve muito perto de desaparecer. Estimativas da época davam conta de apenas restarem na altura cerca de mil exemplares de baleia-azul nos oceanos.
Valeu na época o bom senso dos membros da Comissão Baleeira Internacional, organismo criado para garantir uma adequada conservação das baleias no âmbito das atividades baleeiras, que em 1986 decidiu impor uma moratória, proibindo a caça à baleia.
Fezes de baleia
Nos últimos 34 anos, com aquela interdição, as populações de baleias das diferentes espécies floresceram e recuperaram em espaço e em efetivos. E ainda bem. Isso é um fator de equilíbrio para o próprio ecossistema marinho. De raras, as baleias passaram a ser de novo habituais, e reconquistaram o seu espaço próprio.
Isso, por sua vez, permitiu que os cientistas voltassem a estudá-las, com alguns resultados que podem ser surpreendentes. Como o de que as fezes de baleia podem ser também uma boa arma contra as alterações climáticas. Como? É simples. As fezes destes cetáceos funcionam como um poderoso fertilizante que beneficia o crescimento de fitoplâncton, a miríade de microrganismos marinhos que, além de servirem de alimento a muitos outros seres marinhos, têm a capacidade de fazer fotossíntese, tal como as plantas e, por isso, conseguem armazenar grandes quantidades de dióxido de carbono. Uma boa notícia, agora que as baleias voltaram a ser comuns nos oceanos.
_________________________________________
Nestes tempos da covid-19, pedem-nos que fiquemos em casa para nos protegermos, cuidar de nós e dos nossos e ser solidários com a comunidade. Os Missionários Combonianos e as revistas Além-Mar e Audácia querem contribuir para que passe este período da melhor forma possível e, por isso, enquanto durar a quarentena, decidimos tornar de leitura livre todos os conteúdos das nossas publicações missionárias.