Uma raposa aqui e ali, um ou outro javali mais aventureiro ao cair da noite e sobretudo aves e pássaros de muitas e variadas espécies tornaram-se de repente mais visíveis (e audíveis) nas nossas cidades: falcões e melros, rabirruivos e toutinegras-de-barrete-preto, tentilhões, piscos-de-peito-ruivo, patos e gansos, pintassilgos... Foi pelo pior dos motivos, é certo, mas nesta primavera os animais selvagens, sempre tão arredados dos olhares citadinos, ganharam espaço num território que nos habituámos a considerar exclusivo: as nossas urbes.
Isso tornou-se visível a partir de abril deste ano, quando mais de metade da Humanidade (quase quatro mil milhões de pessoas) se viu obrigada a resguardar-se nas suas casas durante várias semanas, para evitar o contágio do novo coronavírus. Em busca de alimento e, aproveitando um inesperado silêncio das cidades, os animais encontraram um novo território para explorar — e atreveram-se um pouco mais. É a sua natureza.