Sala de convívio
28 abril 2025

O galo que não morreu

Tempo de leitura: 2 min
Este conto ensina sobre a necessidade de ajudar o próximo quando mais necessita
Fernando Félix
Jornalista
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Narrador: Era uma vez numa quinta…

Galo (corre para o galinheiro): Socorro! Ajudem-me! Mordeu-me uma cobra! O veneno queima-me o corpo!

Galinhas (em coro): Estás contaminado! Vai-te embora, para que o veneno não se espalhe!

Galo (sai a coxear e a chorar): Fiquem a saber que me dói o coração. Não é por causa da mordida da cobra. É por causa do desprezo da minha família, quando mais precisava de vocês.

Narrador: E o galo afastou-se, arrastando-se.

Galo: Ardo de febre, custa-me mover as patas.

Galinha: Ainda bem que se foi embora.

Galinha: Morrerá longe de nós.

Galinha: Desapareceu no horizonte. O mais certo é ter caído morto.

Galinha: Não tarda, veremos os abutres a voar sobre o corpo dele.

Narrador: No dia seguinte, um beija-flor chegou ao galinheiro.

Beija-flor: Galinhas, anuncio-vos uma boa notícia: o vosso irmão galo está vivo!

Galinha: Estás a dizer a verdade?

Beija-flor: Sim. Ele mora numa gruta perto daqui.

Galinha: Se ele foi mordido por uma cobra venenosa, como pode estar vivo?

Beija-flor: Ele recuperou. Mas perdeu uma pata por causa do veneno. E precisa da vossa ajuda, porque tem dificuldade em encontrar comida.

Narrador: Fez-se silêncio.

Galinha: Não posso ir, estou a pôr ovos.

Galinha: Eu estou à procura de milho.

Galinha: Eu tenho de cuidar dos meus pintainhos.

Beija-flor: Vou regressar sozinho à gruta onde está o vosso irmão?!...

Narrador: Três dias depois, o beija-flor voltou ao galinheiro.

Beija-flor: Anuncio-vos uma má notícia: o vosso irmão galo morreu! Não há quem o enterre nem chore.

Galinhas (em coro): Buáááá!

Galinha: O arrependimento dói mais do que qualquer veneno.

Galinha: Porque não fomos mais cedo?

Galinha: Vamos, sem demora, chorar o nosso irmão.

Galinha: E vamos sepultá-lo dignamente.

Narrador: Mas uma surpresa esperava-as na gruta.

Galo: As vossas lágrimas não são de dor, mas de arrependimento. Vocês não foram capazes de me procurar para me ajudar, mas tiveram tempo para me velar e enterrar.

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Conto
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EDIÇÃO
Abril 2025 - nº 639
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