Narrador: Era uma vez numa quinta…
Galo (corre para o galinheiro): Socorro! Ajudem-me! Mordeu-me uma cobra! O veneno queima-me o corpo!
Galinhas (em coro): Estás contaminado! Vai-te embora, para que o veneno não se espalhe!
Galo (sai a coxear e a chorar): Fiquem a saber que me dói o coração. Não é por causa da mordida da cobra. É por causa do desprezo da minha família, quando mais precisava de vocês.
Narrador: E o galo afastou-se, arrastando-se.
Galo: Ardo de febre, custa-me mover as patas.
Galinha: Ainda bem que se foi embora.
Galinha: Morrerá longe de nós.
Galinha: Desapareceu no horizonte. O mais certo é ter caído morto.
Galinha: Não tarda, veremos os abutres a voar sobre o corpo dele.
Narrador: No dia seguinte, um beija-flor chegou ao galinheiro.
Beija-flor: Galinhas, anuncio-vos uma boa notícia: o vosso irmão galo está vivo!
Galinha: Estás a dizer a verdade?
Beija-flor: Sim. Ele mora numa gruta perto daqui.
Galinha: Se ele foi mordido por uma cobra venenosa, como pode estar vivo?
Beija-flor: Ele recuperou. Mas perdeu uma pata por causa do veneno. E precisa da vossa ajuda, porque tem dificuldade em encontrar comida.
Narrador: Fez-se silêncio.
Galinha: Não posso ir, estou a pôr ovos.
Galinha: Eu estou à procura de milho.
Galinha: Eu tenho de cuidar dos meus pintainhos.
Beija-flor: Vou regressar sozinho à gruta onde está o vosso irmão?!...
Narrador: Três dias depois, o beija-flor voltou ao galinheiro.
Beija-flor: Anuncio-vos uma má notícia: o vosso irmão galo morreu! Não há quem o enterre nem chore.
Galinhas (em coro): Buáááá!
Galinha: O arrependimento dói mais do que qualquer veneno.
Galinha: Porque não fomos mais cedo?
Galinha: Vamos, sem demora, chorar o nosso irmão.
Galinha: E vamos sepultá-lo dignamente.
Narrador: Mas uma surpresa esperava-as na gruta.
Galo: As vossas lágrimas não são de dor, mas de arrependimento. Vocês não foram capazes de me procurar para me ajudar, mas tiveram tempo para me velar e enterrar.