Sala de convívio
09 janeiro 2022

O príncipe feliz

Tempo de leitura: 2 min
Este conto de Oscar Wilde (1864-1900) fala de virtudes intemporais: altruísmo, sacrifício, bondade, misericórdia…
Redação
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Personagens: Narrador, andorinha, junco, príncipe, menino, menina, Deus.

 

Narrador: Na mais central praça da cidade erguia-se a estátua do Príncipe Feliz. Era uma autêntica joia. Um dia, pousou aos pés da estátua uma formosa andorinha, que estava de passagem para o Egito.

Andorinha: É a minha última oportunidade. Atrasei-me, por querer convencer um junco a acompanhar-me na viagem. Mas ele dizia-me…

Junco: Não posso separar-se da terra que me dá a vida, apesar do amor que me liga a ti, querida andorinha...

Andorinha: Estátua, reparo que duas gotas te molham a cara... São duas grossas lágrimas! Porque choras, príncipe?

Príncipe: Pelos pobres da cidade, amiguinha. Há tantos! Os altos muros do palácio não me deixavam ver. Mas desde que me puseram aqui posso ver a pobreza de tanta gente, e sinto-me angustiado. Queres ajudar-me?

Andorinha: Estou de passagem para o Egito...

Príncipe: Insisto, amiguinha, preciso de ti.

Andorinha: Vou ajudar-te. Poderia ir-me embora, quando a tua bondade me atrai?

Príncipe: Arranca o rubi da minha espada. Leva-o àquele casebre, onde vivem umas crianças pobres. Querem pô-los na rua…

Andorinha: Meninos, recebam este rubi.

Menino: Obrigado, andorinha.

Menina: Podemos vendê-la e com o dinheiro pagar a renda da nossa casa.

Andorinha: Terminei, príncipe. Agora vou partir para o Egito.

Príncipe: Há mais pobres na cidade. Leva uma safira a um escritor doente, que é tão pobre que nem pode pagar os remédios.

Andorinha: Mas a safira é um dos teus olhos!

Príncipe: Não faz mal! Anda, vai ajudá-lo.

Andorinha: A safira vai salvar o escritor. Agora já posso voar para o Egito, onde passarei o inverno junto com as minhas irmãs?

Príncipe: Há mais pobres na cidade. Tira-me a outra safira.

Andorinha: Ficarás cego!

Príncipe: Não faz mal. Vai socorrer outros pobres. Arranca uma a uma as lâminas de ouro da minha estátua.

Andorinha: Amigo, ficarei sempre contigo, mesmo quando já nada de valor te restar.

Narrador: Numa noite fria, a andorinha morreu, e o Príncipe Feliz sofreu muito. Como a estátua sem os enfeites ficara muito feia, um dia baixaram-na do pedestal e levaram-na para uma fundição. Mas do Céu ouviu-se uma voz:

Deus: Tragam ao Céu o coração do Príncipe Feliz e o corpo da Andorinha. Deram amor aos pobres. Por isso vão ficar eternamente ao meu lado.

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EDIÇÃO
Abril 2025 - nº 639
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