A Igreja celebra nesta quinta-feira, 19 de março, o Dia de São José. Também hoje, em Portugal, celebra-se o Dia do Pai.
Para a reflexão, apresentamos um texto de Dom Mauro-Giuseppe Lepori, abade geral da Ordem Cisterciense.
É sempre difícil falar sobre alguém que nunca fala. São José é o santo do silêncio; um silêncio que percebemos ao ler os textos do evangelho que lhe dizem respeito; um silêncio que nos desafia. Em que consiste o silêncio de José?
Uma coisa é evidente: José vive o seu silêncio diante do mistério. Ele fica calado porque se vê confrontado com a totalidade do mistério, com a totalidade do mistério de Deus que se expressa na Palavra que se faz carne, que se faz homem, que se faz presença; e nessa Palavra, nessa Palavra, tudo é dito, tudo é expresso.
Diante da notícia de que Maria, sua noiva, está grávida, José atua na justiça humana. Faz tudo o que um homem bom pode e deve fazer.
Ele não entende e decide retirar-se. Não repudia publicamente Maria, porque é ele quem se afasta. Afasta-se de um mistério que não pode compreender, mas do qual sente, ao sofrer, santidade.
É no coração desse silêncio de justiça e doçura humana, no coração desse silêncio de um homem que não entende, de um homem que confessa o seu limite, é no coração desse silêncio que surge uma nova Palavra de Deus: «José, filho de David, não tenhas medo de aceitar Maria, tua noiva, porque o que nela é gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás Jesus: na verdade, ele salvará o povo dos seus pecados».
Esta palavra não elimina o mistério; não explica o que realmente aconteceu, nem como. Esta Palavra introduz José no mistério que Maria já absorveu. José não está mais diante do mistério: ele está dentro dele.
O mistério cristão não é tanto algo que não é entendido, mas algo humanamente incompreensível, que não pode mais ser negado. O mistério cristão coincide com uma vocação, uma vocação que consiste em ser tomada dentro do mistério da Palavra de Deus que se torna carne.
Nesse sentido, José vive um pouco a mesma experiência da Virgem Maria. Mesmo Maria, após o anúncio do anjo e antes de dizer “sim”, ainda está fora do mistério. Depois do seu SIM, ela está dentro: ela não poderá mais negá-lo, e toda a sua vida será determinada pelo Evento.
José, antes do anúncio, está fora do mistério: ele hesita, tem medo, certamente está triste e angustiado. Mas, após o anúncio, permite que a sua vida seja levada humildemente pelo Evento, sem medo, gentilmente, mesmo através de duras provas, como a fuga para o Egito.
Como isso é possível? Como uma pessoa pode mudar tão radicalmente a nível da sua consciência, liberdade, confiança? É que Maria e José recebem essencialmente o mesmo anúncio, ou seja, o que acontece é a obra do Espírito Santo. Como se o anjo lhes dissesse: «É o Espírito que realiza o que lhe é anunciado; é o Espírito, não é você quem faz o que lhe é pedido». De facto, é somente graças ao Espírito Santo que se torna possível aos seres humanos entrar no mistério do Verbo Encarnado. E esta é a essência de toda a vocação cristã, sobretudo da vocação extraordinária de Maria, mas também depois dela e graças a ela, José e cada um de nós.
Nesta solenidade do Dia de São José, peçamos-lhe que interceda por todos os Josés do mundo e, nestes momentos difíceis do coronavírus, por todos os doentes e por todo o pessoal que trabalha nos hospitais, especialmente os médicos, os enfermeiros, os voluntários...
