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13 abril 2020

Em memória de D. Camillo Ballin

Tempo de leitura: 4 min
D. Camillo Ballin (24-6-44 /12-4-2020) encarnava a figura do missionário comboniano identificado com a primeira missão do Instituto, a presença missionária nas terras do Egipto e do Sudão.
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Os meus primeiros encontros com o padre Camillo Ballin tiveram lugar em Roma, no contexto das suas estadias romanas para a colaboração no Pontifício Instituto de Estudos Árabes e Islâmicos (PISAI) e para a preparação da sua tese (Camillo Ballin, Il Cristo e il Mahdi, La comunità cristiana in Sudan, nel suo contesto islamico, EMI, Bologna 2001). O Instituto Comboniano deve a D. Camillo este contributo para o conhecimento de um período dramático na História da primeira geração de missionárias e missionários combonianos que sofreram o cativeiro durante a Revolução Madhista no Sudão (1881-1898).

Depois cruzei-me com ele outra vez, no início dos anos 2000. Esteve no Egipto e deu o seu melhor para a operação de Dar Comboni, o Centro de Estudos Árabes e Islamologia, para o Diálogo com o Islão, que os Combonianos estabeleceram no Cairo. O padre Camillo passou a sua vida missionária entre o Sudão (de 1969 a 1972 e depois de 1990 a 2000) e o Egipto (de 1972 a 1990 e depois de 2000 a 2013) e, para muitos de nós, encarnava a figura do missionário comboniano identificado com a primeira missão do Instituto, a presença missionária nas terras do Egipto e do Sudão. A sua consagração episcopal e a sua designação para o Vicariato Apostólico da Arábia do Norte (2.9.2005) levaram ainda mais longe e para uma doação total a sua identificação com a missão cristã no mundo islâmico.

Em 2012 voltei a vê-lo no Kuwait, numa visita que fiz para preparar uma reportagem sobre a Igreja nos Emirados Árabes Unidos, para a revista missionária portuguesa Além-Mar. Foi o momento em que me aproximei dele, da sua visão missionária, e pude apreciar o seu compromisso apostólico e o seu sentido eclesial. Ele fez questão de me acompanhar na visita aos vários emirados e eu pude ver um pastor em contacto com os seus padres, com as comunidades cristãs. Guiava-o uma preocupação: ajudar a enraizar a Igreja nesses contextos islâmicos, ajudando os migrantes cristãos a sentirem-se igreja local, localizada num contexto desafiante, como é precisamente o islâmico.

Durante o meu ano sabático, em 2015, e no ano seguinte, por uma feliz coincidência, pude ficar em Riade, capital da Arábia Saudita, durante a Quaresma e acompanhar as comunidades cristãs em preparação para a Páscoa. Numa ocasião, ele pôde acompanhar-me: vivia o sonho de construir o centro católico e a catedral em Barhein, o que também facilitaria a presença na Arábia Saudita. Este sonho teve um desenvolvimento feliz e iluminou o seu actual compromisso missionário, até que um problema grave de saúde o deteve, de forma abrupta, em Riade.

E assim voltei a encontrar-me com ele, desta vez no hospital Gemilli, em Roma, para onde foi levado de urgência. Primeiro, nas visitas durante a semana para exames médicos; depois, levando-o ao hospital para as consultas com os médicos e para ver os possíveis caminhos a seguir. A serenidade e a confiança em Deus acompanharam-no, bem como o desejo de poder regressar ao Vicariato, tantas eram as coisas, as pessoas, as necessidades urgentes que o aguardavam. Ele não se desestabilizava e brincava; parece que (em vez de voltar) devo «escrever a homilia para o meu funeral!»

D. Camillo Ballin era um missionário que se lançava para a frente, sempre no fio da navalha, em situações desafiantes, confiando em Deus. Foi assim até ao fim... até onde o Seu Senhor O esperava, surpreendente como sempre, para o acolher com o Seu abraço de Amor, que o resgatou do sofrimento para a Vida Eterna: era o dia de Páscoa, 12 de Abril de 2020, a Páscoa do coronavírus.

P. Manuel Augusto Lopes Ferreira, missionário comboniano

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