Fátima e Rocio são duas alegres jovens universitárias madrilenas de 21 anos. Estudam economia em universidades diferentes nas vertentes política e filosófica. Decidiram passar um mês e meio das suas férias em voluntariado na Etiópia. Entraram em contacto com as Missionárias da Caridade, as irmãs de Santa Teresa de Calcutá, em Adis-Abeba, a capital etíope.
Após chegarem à terra das origens, foram destinadas à comunidade de Hawassa para alegrarem os dias das crianças na casa de acolhimento das missionárias. Algumas a serem tratadas à tuberculose ou à malnutrição, outras internadas devido a deficiências várias, outras ainda acompanhando as mães em tratamento.
Aproveitaram a vinda do Administrador Apostólico de Hawassa, o comboniano espanhol P. Juan Núñez, a Soddu Abala para confirmar mais de 500 católicos para conhecerem o povo guji.
Ficaram hospedadas na casa das Missionárias da Caridade em Adola, onde eu também estava para o fim-de-semana de pastoral naquela parte da paróquia.
Durante as refeições trocamos muitas impressões sobre as suas vivências em Hawassa.
As duas voluntárias manifestaram a alegria de poderem dedicar algum do seu tempo de férias às crianças da casa de acolhimento das Missionárias da Caridade em Adola, através de jogos e brincadeiras.
Confessaram que, vindas de Madrid, estavam muito chocadas com a pobreza que encontraram.
Expliquei-lhes que os etíopes vivem muito melhor agora que há três décadas, altura em que cheguei pela primeira vez ao país.
Sobretudo, os gujis, que eu conheço melhor. Tornaram-se agricultores – no passado viviam sobretudo do gado – e agora comem melhor, têm casas melhores, vestem melhor, a saúde melhorou muito e a escolaridade também.
Perguntaram-me como é que eu reajo frente à pobreza.
Os missionários ajudamos as pessoas quando e com o que pudemos, expliquei.
Recentemente, fui com as Missionárias da Caridade distribuir uma farinha especial para combater a malnutrição na capela de Oda Butta, uma zona muito baixa e quente onde muitas pessoas passam mal.
Às vezes, trazemos mães e bebés malnutridos ou doentes para a casa de acolhimento das irmãs. Quando uma mãe dá à luz, oferecemos-lhe algum dinheiro para comprar roupa para o bebé. Também transportamos doentes ao hospital.
A escola e as duas bibliotecas que mantemos são outros tantos modos de combater a pobreza. A educação abre portas para um futuro melhor.
Expliquei que a pobreza não me disturba, mas prefiro contemplar a beleza, a hospitalidade e a alegria dos etíopes.
Os etíopes são das pessoas mais belas do mundo, disse. Elas concordaram.
E são muito hospitaleiros. Nas caminhadas para as capelas, ao cruzar-me com um pequeno pastor a apascentar o gado, se ele estiver a comer uma espiga de milho, parte-a ao meio e partilha-a comigo. Aconteceu-me várias vezes.
Apesar de saber que é a única comida que o miúdo tem até ir para casa, à noite, eu era um grande mal-educado se não aceitasse.
Quando vivia no Sudão do Sul e olhava para os seus rostos, havia algo que me escapava, que os etíopes tinham e os sul-sudaneses não.
Um dia se fez luz: faltava-lhes o olhar sorridente dos abissínios. A violência e a guerra em que quase permanente viviam desde os anos 50 do outro século, deixou-lhes um olhar sofrido, triste.
A Fátima e a Rocio aproveitaram os tempos livres em Adola para interagir com as crianças na casa der acolhimento. Elas não sabem guji nem a miudagem inglês ou castelhano. Mas era lindo de ver a algazarra que os jogos e as brincadeiras produziam.
Voltaram para Hawassa para continuar com a experiência na casa das missionárias. No fim de julho regressam a Espanha. Muito mais felizes, acho eu!
Padre José Vieira, mccj